sexta-feira, 17 de junho de 2011

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO


ARLINDO ARTUR BLUM [1]


Resumo:
Este trabalho discute a fundamentação que apóia as práticas na perspectiva da alfabetização e letramento refletindo sua origem no Brasil. Propõe um outro olhar sobre a alfabetização analisando a língua escrita, que é o objeto de conhecimento envolvido nessa discussão. Propõe, também, uma reflexão sobre o letramento, discutindo o tema no campo da ciência, ou melhor, na formação dos alunos para uma vida numa sociedade científica e tecnológica.


Palavras-chave: alfabetização, letramento, aprendizagem.  



  1. Introdução:

Em um mesmo momento histórico, em sociedades distanciadas tanto geograficamente quanto socioeconomicamente e culturalmente sentiu-se a necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais do ler e escrever resultantes da aprendizagem, no Brasil a discussão do letramento surge enraizada no conceito de alfabetização. Dissociar alfabetização e letramento é um único equívoco, pois alfabetização é o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o letramento, sendo processos simultâneos.
Letramento é enraizado com conceito de alfabetização se confundem e se fundem prevalecendo o conceito de letramento. As relações grafônicas são parte integrante da aprendizagem da língua escrita, os sistemas alfabéticos e ortográficos devem ser objeto de instrução direta, explícita e sistemática, com certa autonomia as práticas de leitura e escrita. A independência e a interdependência entre alfabetização e letramento são processos paralelos e simultâneos, mas que indiscutivelmente se completam, alguns autores contestam o processo de aprendizagem devido aos estudos psicogenéticos dos anos 80. Por se tratar de aspectos simultâneos sobre esta revolução conceitual, encontra-se o desafio dos educadores em face do ensino da língua escrita, ou seja, o alfabetizar letrando.



  1. Desenvolvimento:
            O propósito, portanto, deste texto, será o de colaborar nas discussões sobre a alfabetização, não com indicações práticas, mas  a partir de uma breve revisão bibliográfica o que os educadores possam encontrar em seus argumentos que justifiquem suas próprias práticas, entendendo o que faz e por que faz.
Alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever. A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita, por um indivíduo ou grupo de indivíduos. É o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utiliza-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia, técnicas para exercer a arte e a ciência da escrita. Enquanto o processo, de alfabetização é considerado contínuo ao longo do qual podem ocorrer diferentes níveis de domínio nas habilidades e conhecimentos envolvidos; mas seu produto, saber ler e escrever, pode ser pré-fixado, reconhecido e medido com certa objetividade, mas não sem certa arbitrariedade.
O letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais e da escrita, ou seja um conjunto de práticas sociais, que usam a escrita, enquanto sistema simbólico, enquanto tecnologia, em contextos específicos da escrita que implica habilidades variadas tais como: capacidade de ler e escrever para atingir diferentes objetivos, permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza sistematize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, garantindo-lhe a sua condição diferenciada na relação com o mundo. Compreender o que se lê, segundo Soares (1998:18), o “resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo
social ou um indivíduo como conseqüência de ter se apropriado da escrita (p.18)”.
Quando um indivíduo for capaz de ler e escrever fazendo uso da leitura e da escrita, não se tem idade ou tempo certo, pois passa por um processo de aprendizagem, com o tempo vai adquirindo o domínio das habilidades e técnicas entre o sistema fonológico e sistema gráfico, estabelecendo uma relação construtivista com a língua escrita e seus usos em práticas sociais. A aquisição do sistema convencional da escrita, o aprender a ler como decodificação e a escrever como codificação, a alfabetização não precede o letramento, os dois processos são simultâneos.

            Macedo (2007) afirmou que Paulo Freire, apesar de não usar o termo letramento, propõe uma prática educativa contextualizada, muito próxima do que propõem os autores que se baseiam na concepção de letramento sócio-histórico. Podemos perceber essa semelhança
nas palavras de Freire em seu livro Ação Cultural para a Libertação:

                                                     “Quanto aos outros, os que põem em prática a minha prática, que se esforcem por recriá-la, repensando também meu pensamento. E ao fazê-lo, que tenham em mente que nenhuma prática educativa se dá no ar, mas num contexto, histórico, social, cultural, econômico, político, não necessariamente idêntico a outro contexto” (FREIRE, 1976, p.17).


            Por outro lado o indivíduo letrado faz o uso das habilidades de ler e escrever inserindo um conjunto de práticas sociais, não apenas no conhecimento das letras e do modo de associá-las, mas usar esse conhecimento em benefício de formas de expressão e comunicação, reconhecidas e necessárias em um determinado contexto cultural. O letramento depende da alfabetização, ou seja, da teoria e prática, pessoas letradas e não alfabetizadas mesmo incapazes de ler e escrever compreendem os papéis sociais da escrita distinguem gêneros ou reconhecem as diferenças entre a língua escrita e a oralidade.
            A ausência tanto quanto a presença da escrita em uma sociedade são fatores importantes que atuam ao mesmo tempo como causa e conseqüência de transformações sociais, culturais e psicológicas às vezes radicais. Em termos sociais mais amplos, o letramento é apontado, como sendo produto do desenvolvimento do comercio, da diversificação dos meios de produção e da complexidade crescente da agricultura. Ao mesmo tempo, dentro de uma visão dialética, torna-se uma causa de transformações históricas profundas. Nas sociedades industriais modernas, lado a lado com o desenvolvimento cientifico e tecnológico, decorrente do letramento, existe um desenvolvimento correspondente, a nível individual, ou de pequenos grupos sociais, desenvolvimento este que independe da alfabetização e escolarização.
            Todos nós, professores e alfabetizadores, sabemos que o ensinar e o aprender a língua escrita é algo muito complexo e difícil. Alguns pesquisadores argumentam que a criança em seu estágio de maturidade mental não teria condições de apreender as relações /valores sociais. Entretanto, esta é uma visão de que discordamos, pois a relação gráfico-social dá significado e sentido àquilo que nos é informado, tornando muito mais fácil a apreensão, portanto, o conhecimento. O ensino da língua materna escrita, descolado dos fatores sociais que motivam o seu aprendizado, é mera descrição, e nesses moldes, perde seus precedentes, perde o que poderia lhe suceder pelo uso dos falantes.  
            Ainda no sentido que estamos delineando, continua Willians:

                                      Sociedade’, com sua nova ênfase sobre as relações imediatas, foi uma alternativa consciente à rigidez formal de uma ordem herdada, e posteriormente considerada como oposta: um ‘estado’. A ‘economia’, com sua ênfase adquirida na administração, foi uma tentativa consciente para compreender e controlar uma seqüência de atividades consideradas não só necessárias, mas como naturais. Cada conceito interagiu com uma história e experiência em transformação. ‘Sociedade’, escolhida pela sua substância e imediação, a ‘sociedade civil’ que se podia distinguir da rigidez formal do ‘Estado’, tornou-se por sua vez abstrata e sistemática. Novas descrições se fizeram necessárias para a substância imediata que ‘sociedade’ finalmente excluiu. Por exemplo, ‘indivíduo’, que outrora significava indivisível, um membro de um grupo, evoluiu para ser não só, um termo separado, mas oposto - ‘o indivíduo’ e a ‘sociedade”. (1979, p. 18)


            Se a escola assume o compromisso de letrar os seus alunos, ou seja, trazer para dentro da escola as situações comunicativas de fora para que eles possam tê-la como uma condição de comunicação, por exemplo, em sociedade, pois orienta nossos alunos para terem acesso ao maior número de diferentes textos e, acima de tudo, possam produzi-los e saibam para quem estão escrevendo e para qual objetivo. Isto é, que participem de situações de leitura, produção e revisão de textos antes, durante e depois da alfabetização por meio do contato frequente será possível ampliar seu repertório de conhecimentos e letramento.
                         
                 
3. Conclusão:

                        Falar em alfabetização e letramento dentro da educação e fora dela é um assunto que não se esgotará facilmente, pois a sociedade vem impondo novos padrões de exigência, mesmo diante de novos paradigmas, métodos, teorias psicológicas precisamos nos adaptar ao novo. Estudos sobre letramento aponta a necessidade de aproximar na educação a teoria e a prática. Indivíduos mesmo incapazes de ler e escrever compreendem papeis sociais da escrita, distinguem gêneros ou reconhecem as diferenças entre a língua escrita e a oralidade, pessoas alfabetizadas e pouco letradas.
  É preciso defender a importância da linguagem relacionada também as bases maturativas da criança e o estímulo da aquisição desta linguagem levando-se em consideração processos básicos essenciais para o seu desenvolvimento. Não devemos ver a criança como uma tábula rasa, mas como um ser em construção, sendo importante o entendimento da sua maturação emocional, intelectual, buscando refletir seus métodos na constante reconstrução da experiência. Observando também o papel da escola no desenvolvimento contínuo do sujeito para a transformação, a formação de um sujeito crítico e reflexivo de sua realidade.
  Em uma sociedade, o mais comum é que a alfabetização seja desencadeada por prática de letramento, pois indivíduos com baixo nível de letramento só tenham oportunidade de vivenciar tais práticas no ingresso na escola, com o início de alfabetização. Ver nossos alunos como seres humanos digno de respeito, valores inserido socialmente e acima de tudo feliz.
                        Enfim, a hipótese é que aprender a ler e a escrever e, além disso, fazer uso da leitura e da escrita transformam o indivíduo, levam o indivíduo a um outro estado ou condição sob vários aspectos: social, cultural, cognitivo, lingüístico, entre outros. É por meio da leitura e da escrita que deixamos nossas marcas no tempo, que contribuímos com a evolução humana do conhecimento.

                 

4. Referências


COLELLO, S. M. G. Alfabetização e Letramento: Repensando o Ensino da Língua Escrita. Disponível em: http://www.hottopos.com/videtur29/silvia.htm. Acesso em maio de 2009.

RODRIGUES, R.; GONÇALVES, J. C. Procedimentos de metodologia científica. 5. ed. Lages: Papervest, 2007.

SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf. Acesso em maio de 2009.

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

MACEDO, M. S. Interações nas práticas de letramento – O uso do livro didático e da metodologia de projetos. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WILLIANS, R. Literatura e marxismo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979
 


[1] ACADÊMICO DO CURSO DE PEDAGOGIA

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