sexta-feira, 17 de junho de 2011

LIMITES E POSSIBILIDADES ENCONTRADAS NA PRÁTICA DA ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Angela Valdete Ferst[1]

Resumo
Pensar em prática docente, como apropriar-nos das formas de ensinar, logo nos vem a mente como fazê-la, se estamos no caminho certo, que maneira devemos proceder. O presente artigo nos traz a importância desta auto-reflexão e conhecimento evidenciando os limites e as possibilidades concretas referentes ao o processo de aquisição da leitura e escrita no contexto da alfabetização de jovens e adultos resultando a partir da compreensão das referências concretas dos docentes. O fundamental neste processo é a busca do diálogo com as situações de ensino, professora parceira, com os outros e consigo mesmo num processo consciente de interpretação da realidade e de compreensão de que o crescimento/desenvolvimento profissional é fruto do partilhamento de saberes, de experiências, e do trabalho reflexivo, construído de forma crítica, sistemática e coletiva resultando numa alfabetização significativa condizente com a realidade do educando.
Palavras-chave: limites e possibilidades; aquisição da leitura e escrita na alfabetização de jovens e adultos.

O objetivo deste artigo é conhecer os limites e as possibilidades encontradas na ação docente referente ao o processo de aquisição da leitura e escrita no contexto da alfabetização de jovens e adultos, quanto ao entendimento e identificar quais são as práticas escolares mais usadas na competência lingüística, tanto oral, quanto escrita, nas ações e decisões efetivadas pelos professores referentes às práticas pedagógicas voltadas a realidade na qual fazem parte. A alfabetização só ganhará sentido na vida de jovens e adultos se eles puderem aprender algo mais que juntar letras. Eles precisam desenvolver novas habilidades e criar novas motivações para transformar a si mesmos, interessar-se por questões que afetam a vida de todos e intervir na realidade da qual fazem parte, simultaneamente ao aprendizado da escrita.   

1. Aquisição da leitura e escrita no contexto da alfabetização de jovens e adultos
Avançando no movimento de construção do conhecimento e para compreender melhor a ação docente referentes ao fazer pedagógico em relação à alfabetização de Jovens e Adultos - EJA, encontrei-me com a professora Orientadora Bernadete Scheid, para através deste proveitoso diálogo e troca de idéias expor neste texto o seu entendimento do assunto e minhas reflexões referente às suas colocações relativas a ação docente ao o processo de aquisição da leitura e escrita no contexto da alfabetização de jovens e adultos.
Assim descreveu a professora:
EJA – Educação de Jovens e Adultos como uma modalidade de ensino que pode ser freqüentada por jovens e adultos que não conseguiram terminar os estudos dentro da idade. Essa modalidade de ensino tem validade a nível nacional, porque é amparada por lei, da mesma forma como o ensino regular. A EJA deve ser adaptada à realidade local e necessidade específica. Se caracteriza pela diversidade de público, podendo apresentar uma carga horária diferenciada ao ensino regular (Bernadete Scheid, 25/04/2010).

Como vemos o EJA é mais uma modalidade de ensino a qual da oportunidade a pessoas que por diversas razões não puderam completar seus estudos em idade escolar, fazer deste instrumento e o professor a missão de dar a este adulto as condições que ele não teve para aprender e crescer culturalmente, psicologicamente, na busca contínua do conhecimento adaptado a sua realidade.
Sob o ponto de vista da educação de jovens e adultos, alfabetizar não significa apenas ensinar a ler e a escrever. É a oportunidade de transformar a experiência de vida já adquirida em material para um aprendizado social, histórico, cultural e político mais amplo. Podemos dizer que ensinar é mais do que passar informações, é compartilhar objetivos, tarefas, significados e conhecimentos. É preciso compreender como os alunos aprendem aproximar-se dos conhecimentos que eles têm para poder ajudá-los a se aproximarem dos objetivos propostos. O adulto aprende de maneira diferente, tem sua realidade e uma bagagem cultural muito maior, e precisa que a educação escolar seja adequada a tudo isso, fazendo que os conteúdos e a metodologia usada seja a contento com referencias no tempo e espaço aproveitando estes conhecimentos e ajudando-os a serem capazes de resolver os problemas reais da vida. Devemos estar em constante aprendizado.
Para ela:

O fundamental nessa modalidade é valorizar toda e qualquer bagagem de cultura, conhecimento, estimulando os alunos ajudando-os a perceberem seus progressos. Oportunizar o contato com materiais pedagógicos como livros, revistas, o próprio computador criando um elo de ligação, mostrando que tudo é informação e formação (Bernadete Scheid, 25/04/2010).


A atuação do educador alfabetizador implica o movimento entre as tarefas de planejar, observar, registrar e avaliar o dia-a-dia dos seus educandos através de sua realidade. Agindo assim sistematicamente, o professor vai se tornando capaz de construir o processo alfabetizador, compreendendo globalmente o que faz e por que faz. Tornando-se assim capaz de decidir, modificar e intervir nos momentos certos tornando-se sujeito ativo no processo de construção de conhecimento do alfabetizando.

2. Implicações da leitura, escrita e fala na formação do cidadão. 
A iniciação da criança nas habilidades de leitura abre-lhe portas ao conhecimento. A competência de leitura, adquirida nas trocas que, enquanto leitor, ela realiza, aperfeiçoa-se ao longo da vida e pode mantê-la conectada a toda produção de pensar, agir e criar, realizada pela humanidade e registrada em formato de textos escritos. A força dessa aprendizagem constrói consciência e atitudes eficazes ao longo da vida.
Por essas razões, a necessidade de realizar uma alfabetização eficaz torna-se imperativo educacional, do qual a escola não pode fugir. São inúmeras as circunstância que interferem no cumprimento desse objetivo, mas alguns cuidados podem facilitar a aprendizagem e auxiliar a formação de leitores competentes.
O conceito de alfabetização para Paulo Freire, tem significado mais abrangente, na medida em que vai além do domínio do código, pois, enquanto prática discursiva, “possibilita uma leitura critica da realidade, constitui-se como importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social” (Freire, 1991, p.68). Ele defendia a idéia de que a leitura do mundo precede a palavra, o ser humano, muito antes de inventar o código lingüístico já lia o seu mundo. A criança já traz para o ambiente escolar a consciência da importância do desempenho lingüístico oral, para a obtenção de uma melhor comunicação e interação com os demais membros da comunidade em que se insere. Portanto, já conhece algumas regras básicas da linguagem, que a constituem como sujeito e como participante de relações com os outros sujeitos. Já domina intuitivamente uma série de normas e procedimentos lingüísticos que a auxiliarão a penetrar no reino das palavras em sua representação escrita.
A função primordial da escola seria, para grande parte dos educadores, propiciar aos alunos caminhos para que eles aprendam, de forma consciente e consistente, os mecanismos de apropriação de conhecimentos. Assim como a de possibilitar que os alunos atuem, criticamente em seu espaço social.
Não se vai à escola apenas para aprender a falar e a escrever melhor: não se estuda gramática unicamente pelas normas. Fazemos tudo isso porque somos parte da raça humana, integramos uma história que se constrói a cada momento vivido e acredito que, seja como for, podemos acrescentar algo de nós a essa história, o que só será possível a partir de nossa própria expressão, do modo como representamos nossos pensamentos e desejos.

3. Limites e as possibilidades encontrados na ação docente.
Para alfabetizar há concepções e saberes que condicionam nossa prática, precisamos compreender os limites e as possibilidades encontrados na ação docente referente o fazer pedagógico em relação à leitura e a escrita. Por isso retornei a escola junto à professora Parceira da turma do EJA a Professora Joseane Moreira Schneider, onde dialogamos sobre este tema, a qual se mostrou muito participativa, colaborativa e aberta a novos conhecimentos, pois atuava anteriormente em series iniciais com crianças e nunca com jovens e adultos.
Em relação ao questionamento abordando a compreensão dos limites enfrentados pela professora e as possibilidades encontradas em relação à leitura e a escrita esta relatou-me que:

Nossas primeiras fragilidades no momento de trabalhar a leitura e a escrita de adultos é o momento em que temos que trazer a realidade deles para a aprendizagem, ou seja, a vida deles é o maior e melhor material para produzir leitura e escrita, através da realidade deles, o que eles vivenciam no dia-a-dia e o que vivenciaram todos os anos que já viveram, por isso a fragilidade, devemos ter um cuidado especial em trabalhar com esse material que é muito rico, a vida dele (Joseane Moreira Schneider, 10/04/2010).


 Vemos através deste relato a importância de conhecer esta realidade e se aproveitar desta bagagem de conhecimentos, fazendo da prática pedagógica um aprendizado prazeroso e comprometidos sendo sujeitos de sua realidade.
Conhecendo um pouco mais da realidade da educação de jovens e adultos a professora falou que:

É diferente do que com as crianças, pois não se tem um padrão de aprendizagem, cada aluno tem se encontra em um nível, sendo este um trabalho quase que individual, observando suas necessidades, muitos pela idade avançada, muitos cansados por trabalhar, não ter tempo de estudar, ou achar que já passaram dessa fase e não vão conseguir aprender mais (Joseane Moreira Schneider, 10/04/2010).

Constatamos ai vários fatores dificultando a aprendizagem, mas como ela mesma diz: “nós educadores podemos fazer das aulas, da aprendizagem um momento prazeroso a eles. Podemos achar uma maneira de levar o conhecimento até eles que não vá cansá-los, de forma que vai mostrando a realidade que vivem ao mesmo tempo que aprendem.”.
Conforme a professora relatou sendo importante ”a escola caminhar junto com as políticas públicas, auxiliando o professor no que precisa tanto no sentido de ter os materiais necessários para o trabalho, o espaço adequado para trabalhar quanto o apoio que o professor necessitar”.
Podemos dizer então que ler e escrever constitui, hoje, uma demanda social que precisa mais do que nunca ser re-significada e atendida pela escola. Nesse sentido, é fundamental repensar a prática de educar e redefinir o conceito de alfabetização e o que significa estar alfabetizado numa sociedade contemporânea letrada. O domínio do sistema lingüístico é ferramenta indispensável para o exercício de cidadania. Sabemos que há alguns anos não muito distantes, bastava que a pessoa soubesse assinar o nome era considerada alfabetizada, porque dela, só interessava o voto. Hoje, saber ler e escrever de forma mecânica não garante a uma pessoa interação plena com os diferentes meios que circulam na sociedade.
Para a professora “ensinar a gramática e ortografia correta é essencial para saber, por exemplo, pronunciar e escrever corretamente o nome.” É preciso ser capaz de não apenas decodificar sons e letras, mas entender os significados e usos das palavras em diferentes contextos. Ser alfabetizado é desempenhar um conjunto de atividades associadas ao uso prático. Por exemplo: saber ler uma bula, ler uma carta, escrever uma lista de compras ou preencher um formulário, atividades que tornam o indivíduo mais adaptado à sociedade.
O ato de ler é incompleto sem o ato de escrever. Um não pode existir sem o outro. Ler e escrever não apenas palavras, mas ler e escrever a vida, a história. Numa sociedade de privilegiados, a leitura e a escrita são um privilégio. E cabe a nós educadores mostrar o caminho, mesmo que às vezes árduo, mas de fundamental importância para formarmos estes cidadãos mais capazes e formadores de sua própria história.

4. Leitura e escrita no cotidiano escolar
Muitas são as visões a cerca da alfabetização, seja ela de crianças ou de jovens e adultos, muitos são os pesquisadores que discutem a necessidade de se entender a alfabetização não apenas como aprender a ler e escrever, mas buscar a interação também com o contexto social vivenciado pelo aluno. Ao professor cabe direcionar sua prática utilizando-se de métodos e estratégias pedagógicas para compreender o objetivo de como trabalhar os processos que ocorrem durante a aprendizagem e a realização da fala, da leitura e da escrita, como perceber suas inter-relações. Compreendendo que alfabetizar-se não se limita ao uso da tecnologia de transformar sons em letras, mas entender a dinâmica como sendo uma decodificação, um entendimento do conjunto de letras e a relação existente entre elas. Precisa ter conhecimento dos processos que ocorrem quando o aluno começa a se apropriar da leitura e escrita, quando acontece seu início e quanto tempo necessita para esse processo. Cada indivíduo é único, e não há um tempo limitado para que este consiga desenvolver sua habilidade em se alfabetizar.
Não estando em sala de aula como a maioria de meus colegas, torna-se mais difícil para mim perceber as realidades existentes no processo da alfabetização e como isso ocorre no dia-a-dia, sinto bastante dificuldade e procuro me interar através do diálogo com professores e colegas, leituras e pela parceria da professora, para comprometer-me ainda mais nesse processo da construção de meu conhecimento. Percebi, analisando nas leituras e nas pesquisas realizadas com a professora parceira, que cada aluno tem o seu tempo para assimilar o conhecimento, alguns têm mais facilidade e habilidades na leitura ou na escrita de diferentes formas, e outros encontram mais dificuldades, percebi que seus alunos possuem diferentes níveis de conhecimento, e ela trás para suas aulas materiais para as dificuldades que os alunos apresentam, partindo sempre da realidade e dificuldade de cada um, com material específico para cada um, utilizando-se de materiais lúdicos como jugos, figuras, recortes, palavras relacionadas com seus significados, utiliza diferentes materiais para despertar o interesse em aprender a ler e escrever. É por isso que a professora deve conhecer bem a realidade de seus alunos, seus limites, suas dificuldades, para que assim possa direcionar suas atividades despertando e motivando-os para a alfabetização, direcionando e mudando sua prática pedagógica sempre que encontra dificuldades no aprendizado de seus educandos.
Nesta perspectiva, podemos dizer que a construção da linguagem por parte da criança e do jovem deve ser entendida como uma construção ativa e progressiva do conhecimento. Ler assim como escrever, são habilidades que dependem de motivação. O educando depende da cooperação do professor para o desenvolvimento de sua aprendizagem e a ludicidades dentro da aprendizagem tem um papel importante, pois faz com que o educando aprenda com mais facilidade, utilizando-se da brincadeira e do lúdico o professor traz para o aluno um instrumento com o qual já está habituado tornando-se mais fácil o entendimento e facilitador da aprendizagem.
A linguagem escrita como qualquer outra linguagem faz parte do cotidiano das crianças e adultos, pois em qualquer ambiente social é possível entrar em contato com textos, palavras, freses, que servem para convencer, informar, comunicar e expressar, entre outras coisas, idéias e sentimentos. O contato com este mundo letrado faz com que as crianças e adultos percebam não só as situações de uso e as funções destes, como também as suas características lingüísticas e visuais. Cabe ao professor aproveitar essas palavras para ensinar, desenvolver habilidades, observar e descobrir as potencialidades individuais para ajudar desenvolvê-las, trabalhar bastante com palavras que vêem da realidade do aluno, estimular a leitura, assimilar o som com as palavras, desenvolver a escrita, comparar a escrita com o seu significado. Pode-se descobrir assim com mais facilidade as dificuldades e adaptá-las a realidade de cada um. A professora parceira trabalha diferentes maneiras para cada aluno, pois uns lêem, outro só sabem copia da palavra, mas não sabem a escrita correta, pois cada aluno se encontra em um nível, como ela diz: “o trabalho é quase individual, dou a cada aluno o que ele necessita para ler e escrever”, preocupando-se assim com a aprendizagem individual considerando os limites tanto na aquisição e de desenvolvimento da língua escrita de seus alunos.

5. Considerações finais
Consideramos que essas reflexões são extremamente importantes quando procuramos conhecer os limites encontrados tanto na aquisição e desenvolvimento da língua escrita pelos alunos, quanto no entendimento em questionar e identificar quais são as práticas escolares mais usadas na competência lingüística, tanto oral, quanto escrita, nas ações e decisões efetivadas pelos professores. A identificação desses fatores, somente poderá ser encontra no dia-a-dia na sala de aula, onde será possível através do acompanhamento e avaliação da prática alfabetizadora, observando a realização do trabalho docente possível diante das contradições evidenciadas no confronto entre a teoria e a prática, observando a realidade, e as fazes de desenvolvimento de cada aluno dentro de seus limites e especificidades, para garantir o sucesso na alfabetização.

Referências

SCHEID,Bernadete: Supervisora da Secretaria Municipal de Educação, Professora formada em Pedagogia URI Santo Ângelo, RS, Pós-graduada em Orientação e Supervisão Escolar e em curso Pós-graduação em Inclusão Escolar .
FREIRE, Paulo. Educação na cidade, São Paulo, SP: Cortez, 1991- texto de Moacir Gadotti “o uso do termo letramento como alfabetização é uma forma de se contrapor ideologicamente à tradição freireana”,Revisa Pátio pág. 48
SCHNEIDER, Joseane Moreira: Professora Parceira, formada em pedagogia Docência na educação infantil –URI Santo Angelo-RS

COSTA, Marta Morais da. Literatura infantil. Curitiba,PR:IESDE, 2006


[1]    Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância (LPD), pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), através da Universidade Aberta do Brasil (UAB),  Polo de Cerro Largo – RS.

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