terça-feira, 28 de junho de 2011

EDUCANDO PEQUENOS CIDADÃOS HOJE

QUALIFICADOS NO AMANHÃ

Maguiliane Machado[1]

INTRODUÇÃO

Minha curiosidade em aprofundar o conhecimento sobre Educação Infantil, nasceu de uma substituição que fiz na ausência de uma professora dessa modalidade, na escola que faço parceria. Despertou em mim o interesse de entender como acontece o processo de ensino-aprendizagem, em como educar essas crianças que chegam à escola cheias de brilho nos olhos, “achando-se gente grande”, por estar ali apreensiva para aprender. Uso esse termo, porque muitas delas falam pra gente assim:
“Profe, eu já sou grande, estou estudando!” Mas, sabem elas o que está reservado no ambiente da escola pra elas? Será que a escola reserva um espaço pra brincar, correr, socializarem-se com os outros, como elas necessitam no dia-a-dia?

Refletindo sobre o lúdico na escola

O educador deve ser mais que um professor, deve a cima de tudo entender que nem todas as crianças vivem uma infância como deveriam, no sentido de condições sociais, culturais e econômicas. Muitas delas vêem de lares problemáticos, e é na escola que buscam carinho e atenção. O professor através de uma sondagem parte da realidade dessas crianças para que na escola sejam trabalhados o que lhes falta, como limites, disciplinas, etc. Através de brincadeiras, histórias e cantos despertar o interesse de cada um para desenvolver suas habilidade e aptidões. Muitos professores acham que o barulho, a conversa alta na sala, atrapalha na aprendizagem e o manuseio de materiais de jogos, fica para a hora que não tem mais o que fazer tornando-se sem nexo, sendo que esses métodos quando valorizado enriquece o ensino, isso acontece também com os desenhos que são dados de última hora uma folha e lápis para fazer para passar o tempo.
A escola que faço parceria, os professores ainda priorizam o ensino mais tradicional, não quero com isso generalizar que não possua atividades lúdicas, mas percebe-se que ainda é pouco. Na visita feita na educação infantil, as crianças brincam, são felizes, tranqüilas, mas são criativas. Na sexta-feira elas trazem de casa o seu brinquedo para a escola, e percebe-se a alegria deles mostrar o seu objeto, querem brincar, interagem umas com as outras, percebe-se que naquele dia elas têm um tempo reservado para brincar como querem. È pouca as atividades lúdicas, algumas cantigas, possui jogos no armário que elas mesmas pegam para brincar com os colegas depois da tarefa pronta. A professora fica o maior tempo na sala de aula com os alunos, onde eles brincam no chão, com carrinhos, etc. Quando saem para o parquinho ficam á vontade, não faz nenhuma brincadeira dirigida, só às acompanha.

Os professores têm dificuldades de usar no cotidiano o lúdico, pois falta conhecimento teórico para apoiar sua prática lúdica no cotidiano escolar. O que implicará em mudanças nas atitudes pedagógicas, pois é fundamental trabalhar o lúdico na educação visando uma aprendizagem onde o aluno é o centro. Os professores não utilizam as atividades lúdicas no processo ensino-aprendizagem, muitas vezes, alegando que geram distrações e consequentemente indisciplina.
 Aí surge então o porquê de na escola trabalhar o lúdico, pois as crianças se distinguem no tempo e no espaço, isso é,  precisam brincar sem imposição de limites, pois a brincadeiras fazem parte do seu mundo, na educação o lúdico contribui para o desenvolvimento da pessoa em qualquer idade, auxilia no desenvolvimento social, e cultural, facilita o processo de comunicação e expressão do pensamento.
 Para Jean Piaget, “o jogo não pode ser um divertimento para gastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral.” Ele estimula o crescimento e o desenvolvimento, a coordenação muscular, as faculdades intelectuais, a iniciativa para o conhecimento. Quando elas interagem com os objetos, elas ficam motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar os obstáculos tanto cognitivos como emocionais. O jogo é mais importante das atividades infantis, se ela brinca, joga, cria e inventa mantém o equilíbrio com o mundo.
Piaget (1998) prioriza que o jogo é essencial na vida da criança, ela repete no início por puro prazer, depois os jogos simbólicos satisfazem a necessidade não só relembrar mentalmente, mas executar a representação. Ele afirma que atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável na prática educativa.
Para Vygotsky, diferente de Piaget, considera o desenvolvimento ocorre ao longo da vida. Para ele o sujeito não é ativo e nem passivo é interativo. Segundo ele a criança usa interações sociais com forma privilegiados ao acesso de informações, aprende a regra do jogo, por ex, através dos outros, aprende a regular o seu comportamento pelas reações. Para ele o meio social influencia no sujeito. O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança. Ele afirma que acontece na zona real e proximal. Proximal é a capacidade que o sujeito tem de aprender, mas com ajuda de um adulto; potencial é a capacidade de resolver problema sem ajuda.
Na visão de Vygotsky, a brincadeira é uma atividade específica da infância, ela recria sua realidade, e que o brinquedo influencia no desenvolvimento aprende agir cognitivamente, através de motivação e tendências internas, e não por incentivos de objetos externos.  Essas brincadeiras devem estar de acordo com a zona de desenvolvimento em que ela se encontra para ir além.
            A atividade lúdica traz gozo pela fantasia, faz de conta e imaginação. Nela o momento pra criança vale a pena. Esse momento proporciona encontro consigo mesmo e com os outros, fantasias, realidade e aprendizagem. A sua autonomia torna-se presente no tempo e espaço, pois brincando ela torna-se operante, desafiada a buscar soluções para as situações imaginadas estimulando sua criatividade. A imaginação tem função importante na regulação das próprias emoções. Aqueles que têm tolhida na infância a possibilidade de imaginar, em geral, apresentam a dificuldade de controlar os impulsos da vida adulta. “A imaginação é um jeito de concretizar um pensamento sem a necessidade da ação. Eu posso querer bater em alguém, mas sei controlar esse impulso e não preciso agir”. (Clotilde citada por MOÇO, 2010.p.42).
            Ao chegar á escola, vindo de uma realidade vivenciada com a família, depara-se com outra, fica exposta a essa realidade e no seu interior surge um turbilhão de perguntas. Aí ela precisa se encontrar, e aprender a lidar com as mais diversas situações que surgem no cotidiano, precisas de ajuda para organizar seus sentimentos e sentir novamente confortável no meio que o cerca. È no brincar que a criança vai encontrar equilíbrio entre o real e o imaginário, reconstruindo e trazendo significado ao seu mundo. O brinquedo deve partir de sua realidade não pode ser alheio ao meio que se encontra inserido.
            Para a criança, brincar não é passa tempo, mas sim maneira de integrar-se e interagir com o adulto, e é mais importante que jogar, pois é natural; já o jogo possui regras e limites, sendo também um fator de desenvolvimento. Brincar e jogar são fundamentais no desenvolvimento da criança.
                                    “A brincadeira e o faz de conta são meios também de desenvolver a linguagem, pois imaginando ela se comunica, constrói histórias e expressa vontades. Quando ela se relaciona com os colegas, coloca-se no lugar do outro, reforçando sua identidade.” (Carneiro citada por MOÇO, 2010.p.44).
Por trabalhar com a expressividade, as atividades artísticas são importantes no desenvolvimento da identidade e da autonomia, é perceptível ao apresentarem seu desenho. (”-Este é o meu desenho, este é o meu irmão.”) Elas são um meio do controle motor, de compreensão do espaço e de desenvolvimento da imaginação que é fundamental para a condição humana e relacionada ao brincar. A criança tem um corpo e uma história, não é papel da escola rotulá-los ignorando seu potencial. O ato de educar não deve se basear ao repasse de informações, se o professor traz o conceito pronto, acabado não dá ao aluno a possibilidade de perceber e fazer diferente. Pois conceituar é dizer o que é, logo são fechadas todas as possibilidades do aluno questionar e buscar caminhos diferentes, porque o conceito foi entregue pronto, acabado e não lhe foi permitido criar, transformar, fazer de outra maneira.
Anísio Teixeira e Paulo Freire, cada um com sua leitura de educação, lutaram por uma educação transformadora, onde a interação do sujeito fosse respeitada. Contemplaram um fazer pedagógico prazeroso e participativo. Na educação libertadora, de Paulo Freire, se abomina a dominação do educador sobre o educando. Sua ação educativa é horizontal onde há uma troca entre educando e educador propiciando a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos em torno de um mesmo objeto para poder intervir sobre o mesmo. Quanto mais se discute o conhecimento frente à realidade, mais o aluno se sente desafiado a buscar respostas e mais terá uma consciência crítica e transformadora, ou seja, se faz sujeito de seu próprio processo.
            As cantigas de roda, acompanhar a música com palmas e saber o sons de vários instrumentos, ritmo, tem uma importante relação com os movimentos, a música é uma aquisição da linguagem verbal. O que nos leva a desenvolver capacidade inata é a educação que recebemos e oportunidade que encontramos. Por isso o papel da escola é trabalhar com sons, música e dança que são fonte de conexão cultural. O lúdico está presente em todas as fases do ser humano, dando sabor a sua existência é o ingrediente indispensável nas relações provocando a imaginação e a criatividade. Brincando a criança torna-se operativa, é desafiada a buscar soluções para situações imaginadas e vivenciadas estimulando sua inteligência e criatividade.
O professor deve ensinar de forma prática, com base em experiências observacionais relacionada à vida cotidiana das crianças, motivando desde cedo os alunos a observar as constantes transformações que ocorrem ao seu redor. A aprendizagem acontece quando o aluno entende que o conteúdo está inserido no seu cotidiano, mudando suas atitudes. O registro das pesquisas, compartilharem resultados com os colegas argumentando produz conhecimento. Na prática do professor os brinquedos não podem ser explorados só como um lazer, mas deve ser enriquecedor da aprendizagem, não sendo a única fonte de aprendizagem, mas auxilia nos resultados que promovem mudanças.

CONCLUSÃO

Apesar de conhecer a importância do lúdico como recurso metodológico, muitos ignoram como ferramenta pedagógica, mas é comprovado que ele deve ser usado como forma de transformação e libertação do sujeito. Ele proporciona ao professor a sensibilidade de criar, saber potencialidade e limitações desenvolvendo o senso crítico de pesquisador. Falta na escola uma proposta pedagógica que incorpore o lúdico no trabalho, isso depende da ação do professor.
 O professor deve ser facilitador do ensino, e o aluno deve aprender fazendo e experimentando. O ato de educar não deves ser um repasse de conteúdos, onde o professor traz o conceito pronto, não dando oportunidade de o aluno perceber e fazer diferente. È necessário pensar a importância lúdica no processo do professor, pois além de facilitar aprendizagem, produz desenvolvimento social e individual, a construção de conhecimento, comunicação, expressão e a criatividade. O lúdico é uma necessidade do ser humano, e não uma diversão.

Referências Bibliográficas:

DELGADO, Ana Cristina Coll. Infâncias e Crianças.

MOÇO, Anderson. Quanta coisa eles aprendem! Nova escola. Abril. São Paulo.Ano xxv.abril,2010.

PIAGET e VYGOTSKY. O lúdico na educação infantil. Disponível em: <http://www.legadoludico.com/artigo/lei.html.

TONUCCI, Francesco. Com os olhos de Criança.


[1] Acadêmica do Curso Licenciatura de Pedagogia a Distância – UFPel/UAB, Polo de Cerro Largo.

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