A responsabilidade de pais e educadores na formação escolar
Melissa Maria Muller¹
O objetivo desse texto é propor algumas reflexões sobre a indisciplina na escola. As reflexões a que vamos nos propor, partem da premissa de que a família deve ser a primeira a colocar limites em seus filhos, nos seus lares, e que, a escola tenha suas regras claras e também exija cumprimento delas. As reflexões que originaram esse trabalho estão baseadas nas entrevistas com pais de alunos, nas reflexões feitas em reuniões pedagógicas nas escolas, nas leituras de textos propostos pelo Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância – UAB–UFPEL, na entrevista da professora-parceira, na leitura, análise e reflexão de outros textos ou obras disponíveis em sítios específicos de educação na rede mundial de computadores e nos relatos de alunos que tem enfrentado esse problema direta ou indiretamente.
1. A tarefa da família
Toda família em sua origem planeja ser feliz, ter filhos saudáveis, dóceis, inteligentes, carinhosos e obedientes. Mas para conseguir isso, muitos não sabem, ou não percebem, que isso só vem através de uma educação de disciplina e discernimento. Não há crianças que aprendam limites sem que alguém lhes mostre, e isso talvez seja o mais difícil de toda educação.
O primeiro que deve ter o dever de mostrar os limites aos filhos são seus pais, ou melhor, sua família, pois é com ela que essa criança certamente crescerá e se desenvolverá. Impor ou colocar limites aos filhos deve ser um exercício diário de pais, pois caso contrário, a criança não consegue distinguir claramente o que pode e o que não pode ser feito, o que deve e o que não deve fazer. Mas para isso, pais e mães devem primeiramente estar de acordo com o que se diz e se pensa sobre limites, pois de nada vale um propor regras e outro permitir que a criança faça a seu modo.
Fica assim como primeiro indicador, que os responsáveis diretos pela educação de limites e regras é a família, que deve zelar diuturnamente para que seus filhos saibam
_______________
¹ Estudante do Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância – UAB–UFPEL Pólo Cerro Largo
diferenciar o que pode e o que não pode ser feito, o que deve e o que não deve fazer, para ter uma vida sem problemas de relacionamento e de limites.
Mas cabe a nós perguntar, e se a família não cumprir esse seu papel, que fundamentalmente é educar para o respeito e para os limites, a quem caberá então essa função? A escola? As igreja? A comunidade? Ao poder público? Ou serão essas crianças criadas sem limite algum?
2. A tarefa da escola
Todo início de ano, professores podem escolher suas turmas para ministrar suas aulas por um ano numa mesma série, e o desejo inicial de cada professor é que sua turma seja homogênea, quer dizer, onde todos estão em níveis de aprendizagem praticamente iguais, e que todos tenham interesse em aprender e que todos saibam respeitar colegas e professores sem enfrentamentos, e ainda que não tenham alunos com problemas de indisciplina.
Percebe-se, no entanto, segundo alguns relatos de professores, que hoje, praticamente não existem mais salas de aula onde não tenham alunos indisciplinados, pois, segundo os mesmos professores, os grandes problemas da aprendizagem ocorrem nas salas de aula onde existem esses tipos de alunos, que não respeitam colegas, não respeitam professores, e não aceitam ordens.
“como posso dar aulas e passar conteúdos se na maioria do tempo eu passo xingando os alunos que não aceitam o que eu proponho? Já chamei seus pais, que prometem melhoras, mas dois ou três dias depois tudo começa de novo, e geralmente pior, pois zombam da gente pedindo se vão chamar os pais de novo ou se vão mandar para a direção”(fala da Professora-parceira Ledir Wastowski.)
Essa situação faz parte do dia a dia da realidade escolar no Brasil, onde pais não ensinam limites, onde professores se estressam com alunos que não demonstram interesse pelo aprender, onde as escolas não têm condições de oferecer acompanhamento individualizado e onde deveria ter uma educação de qualidade, oferece-se somente o básico para aprender, e não o necessário para se desenvolver.
Cabem aqui também alguns questionamentos: o que deveria o professor fazer para melhorar a aprendizagem desses alunos vistos como indisciplinados? É possível na escola, ainda disciplinar alguém quando não tem apoio da família? É a escola o local onde se deve ensinar o básico para uma vida social saudável? Valores vem da família ou devem ser ensinados na escola? Não deveriam família e escola andar juntos?
3. Função da família e da escola para uma saída à indisciplina
Perguntávamos anteriormente “e se a família não cumprir esse seu papel, que fundamentalmente é educar para o respeito e para os limites, a quem caberá então essa função? A escola? As igreja? A comunidade? Ao poder público? Ou serão essas crianças criadas sem limite algum?
Quando isso ocorrer, realmente passa a ser função da escola corrigir a indisciplina, mostrar a esses indivíduos que vale a pena seguir regras determinadas para que a vida possa ter significados positivos. Mostras para essas pessoas, que o limite é o que dá o direito à igualdade, a justiça e ao próprio direito. Não é o papel da igreja e nem da comunidade onde o sujeito está inserido a por limites a alguém, ou a corrigir a indisciplina, mas sim à escola e ao poder público, quando necessário.
Discorrer sobre a responsabilidade dos indisciplinados é aparentemente fácil, mas difícil é fazê-los aceitar, que esse caminho não leva a dignidade, não leva a aprendizagem e muito menos, leva o indivíduo a ter uma vida melhor, ou uma vida com perspectiva de futuro, pois não saberá diferenciar o direito do dever, o certo do errado ou o público do privado, pois esse indivíduo sempre seguirá regras por ele estabelecidas, que se não impedido de realizá-las levará a sociedade ao caos, e para que isso não ocorra, faz-se necessário, que a escola assuma definitivamente esse papel, além dos inúmeros já assumidos, mas voltando seu olhar para que a indisciplina não cresça, e que no lugar dela, cresçam a aprendizagem, a esperança e a realização humana.
Indagávamos ainda: o que deveria o professor fazer para melhorar a aprendizagem desses alunos vistos como indisciplinados? É possível na escola, ainda disciplinar alguém quando não tem apoio da família? É a escola o local onde se deve ensinar o básico para uma vida social saudável? Valores vem da família ou devem ser ensinados na escola? Não deveriam família e escola andar juntos?
Como resposta a esses questionamentos, devemos levar em conta Paulo Freire, que tão sabiamente nos colocou a disposição seu método de alfabetização, que partia da investigação, passava para a tematização para chegar a problematização. Cito isso para dizer que essa talvez também seja uma das formas para se chegar a um novo conhecimento, com menos rebeldia, com menos indisciplina, pois realmente, assim o professor poderia melhorar a aprendizagem desses alunos, a escola passaria a ter um maior apoio dos pais, pois esses perceberiam melhorias de seus filhos na escola e consequentemente na aprendizagem.
Ainda podemos afirmar que o melhor ambiente para uma vida social saudável, deve ser a escola, pois ali que acontecem todas as inter-relações promotoras de paz na sociedade, pois uma escola onde os conflitos são administrados é demonstradora de uma sociedade que pode resolver seus conflitos, diminuindo sua violência e desordem, características da indisciplina. Pois dessa forma, constroem-se valores autênticos de vivência, respeito, disciplina e dever.
4. Considerações finais
Os casos de indisciplina escolar têm se mostrado um problema de responsabilidade de toda a comunidade escolar. É de extrema importância a atenção que deve ser dada a essa questão, pois percebe-se um avanço em todas as séries/anos das escolas públicas. É necessário buscar alternativas válidas para combater a indisciplina em todos os ambientes escolares. Este processo, que requer meses ou mesmo anos de trabalho coletivo, requer, que trabalhadores em educação caminhem juntos para avaliar, planejar, e desencadear mudanças e avanços no ambiente escolar.
Todos os segmentos da escola devem caminhar juntos e necessariamente associados aos pais desses alunos, para que em todos os ambientes eles percebam a necessidade e a vantagem de trilhar por caminhos corretos, onde esse caminhar possa ser de sentido, de realização e de esperança para uma vida melhor, e a certeza de uma plena realização humana.
Referências
CURY, Augusto Jorge. Pais Brilhantes, Professores Fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
ESTRELA, M. T. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. Porto: Ed. Porto: 2002.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire. São Paulo, Brasiliense, 1981.
Nenhum comentário:
Postar um comentário